"Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio". Essa famosa frase de Hipócrates (460-377 A.C), considerado o pai da medicina no ocidente, sugere que a sabedoria popular e o conhecimento científico não são incompatíveis.
Atualmente, cresce a noção de que além de uma alimentação balanceada, o consumo de determinados alimentos, os assim chamados “alimentos funcionais”, pode contribuir em muito para a manutenção da saúde e da qualidade de vida.
Um exemplo bem comum desses alimentos é a pimenta. Com diversas variedades, algumas mais intensas do que outras, esse tempero tem sido objeto de estudos sérios em farmacologia, abrangendo principalmente sua ação analgésica, anti-inflamatória, cardioprotetora e até vermicida.
Boa parte de seus efeitos terapêuticos, bem como seu sabor pungente, residem na molécula de capsaicina. O uso tópico desta substância já foi reportado como capaz de reduzir a sensibilidade e aliviar a dor provocada por diferentes tipos de neuropatias, tanto que a FDA (Food and Drugs Admnistration), órgão do governo norte-americano que fiscaliza a segurança de alimentos e medicamentos, já liberou o uso de adesivos dérmicos contendo 8% de capsaicina , para o tratamento de dores provocadas por ósteoartrite, herpes e neuropatias diversas.
Recentemente, também foi demostrado que a capsaicina pode induzir a liberação de óxido nítrico no sistema cardiovascular, reduzindo a pressão sanguínea, o que lhe confere um efeito protetor contra doenças cardíacas. Além disso, pesquisadores brasileiros já demonstraram que o consumo de extrato de pimenta-dedo-de-moça, uma das mais comuns no Brasil, é capaz de reduzir o colesterol total tanto em roedores quanto em humanos.
Contudo, estimativas mostram que o consumo desse tempero ainda é muito reduzido no Brasil (máximo de meio grama por pessoa), se o compararmos, por exemplo, com países orientais, como a Tailândia (pelo menos dez gramas). A capsaicina também ajuda a reduzir os níveis de glicose circulante, a combater rinites alérgicas e não alérgicas, e também atua como um estimulante do metabolismo, ajudando a queima de calorias no combate à obesidade.
Como a capsaicina é a responsável tanto pelo sabor picante quanto pelos benefícios à saúde, na prática, quanto mais forte a pimenta, tanto melhor. Culturalmente somos induzidos a escolher nossos alimentos mais pelo sabor do que por qualquer outro motivo. Apesar de seu sabor picante não ser apreciado por alguns, vale à pena experimentá-la, pois os benefícios de seu consumo superam em muito uma eventual falta de afinidade com esse tempero. Mas com moderação, é claro.
Gilson Luis Da Cunha
Biólogo, Doutor em Genética e Biologia Molecular